Nada modifica mais as pessoas do que traumas, colapsos, breakdowns. Ingenuidade achar que quem sobrevive é a mesma pessoa de antes de um terremoto. E isso não é voluntário nem fruto de aprendizado, é fruto dos eventos que o causaram.
O susto pode ser grande, a incapacidade de se reconhecer, o se acostumar com um novo eu.
Eu nunca gostei do sobrevivente que me tornei depois dos meus tsunamis(eles não foram poucos), parecia que à cada crise eu sobreviva menor e mais fraco.
Mas todos os meus apocalipses foram necessários.
Mesmo que tenham me enfraquecido e desesperado até o limites das minhas fraquezas e medos. E mesmo tendo me tornado uma pessoa pior.
É que eles eram todos parte de um processo de desconstrução, demolição, aniquilamento. Um processo independente das minhas escolhas e decisões, uma engenharia autônoma, independente. Como se estivessem, todo esse tempo, e à minha revelia, dissecando e desmontando a estrutura do meu DNA para rearranjá-la e tornar-me mais resistente. Um processo que envolveu destruir quem eu era antes, jogar no lixo muitas das minhas crenças e verdades, medir, pesar e avaliar a importância de todos os meus relacionamentos pessoais. Arrancar, mesmo sem os instrumentos e técnicas necessárias, pessoas e circunstâncias.
Até a chegada do grande final, a hecatombe, meu mais recente, mais violento e destruidor terremoto, arrastando coisas e pessoas, soterrando relações antes fundamentais.
Deixando em mim essa sensação de ter escapado de sob um prédio em ruínas. E deixando atrás de mim apenas os escombros e os corpos dos meus mortos. O que sobrou de mim foi apenas o absolutamente essencial. Aquele que saiu dos escombros alquebrado e sangrando, com as roupas rasgadas e as mãos sujas de sangue e poeira, esse sou eu. Ainda me acostumando com as perdas, mas aliviado de ter deixado os meus mortos para trás, soterrados, desnecessários e desimportantes.
Estou começando a me conhecer de novo. E gostando de mim assim. Limpo, seco, enxuto de tudo o que não tem importância ou solução. Livre.
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