Seria trágico se não fosse cômico.

   O desvalido que vos fala vai passar o natal com a muito luxuosa Duquesa de Deptford, que deixará o East End londrino para sua temporada anual em Taipús de Fora, na Bahia, onde construiu uma espetacular summer house.

   A Duquesa e sua amante lésbica, a ruiva fatal Josephinne, estão entre as poucas pessoas e coisas de que eu sinto falta quando penso nas quase duas décadas em que vivi na louca London Town. Nada teria sido o mesmo sem ela. Criatura tempestuosa e volátil, a Duquesa dividiu comigo as melhores gargalhadas e as lágrimas mais amargas. Sempre insuportavelmente antipática e superior.

   Ando excitado de vê-la de novo depois de tanto tempo, checar o figurino, as joias, o cabelo.

   Enquanto ela vem tomando champanhe na primeira classe, eu vou me sacudindo naquele pau-de-arara até Ilhéus, para depois pegar um "ônibus" para Camamú e uma barca até Barra Grande, de onde devo seguir, sabe-se lá como, para o chateau de Madame.

   Falei com a criatura outro dia e ela me contou que anda ocupadíssima shopping for clothes. Foi um custo convencê-la a enfiar uma caixinha do meu chá favorito, da rede de supermercados populares Tesco, em uma de suas muitas malas Vuitton, todas custom made, claro.  Ela temia a contaminação.